O que dizer de uma falsa comemoração, baseada em falsas pinturas e histórias sobre povos que vivem para contar suas histórias mas que são esquecidos o ano inteiro?!
O dia do “índio” não contempla os indígenas brasileiros, pelo contrário: ele apaga suas existências, reforça a fantasia sobre um velho herói nacional, fazendo a imaginação principalmente da criança e do jovem brasileiro idealizar Peri¹ e Iracema¹ em nossos corpos.
Até pouco tempo atrás, o dia 19 de abril não era sobre conscientização, mas nossa luta fez com que passasse a ser. A narrativa de comemoração da existência de povos indígenas precisa falar de suas lutas e conquistas, de resistência e dos massacres sofridos. Mais que penas e miçangas, somos corpos, pinturas, falas, representatividade.
Para os nossos povos, o Abril indígena passou a ser comemoração de uma nova era, época de compartilhar lutas e culturas. Neste período, escolas promovem os Jogos Indígenas regionais, aldeias se articulam na defesa dos direitos, o canto e os adornos enfeitam nossos corpos e nossas aldeias. Momento de brincadeira para nossas crianças, momento de luta para nossas lideranças.
O dia do indígena precisa ser marcado por suas lutas, pela demarcação de seus territórios, pela autonomia de seus povos, pelo direito a existência de seus modos de vida.
¹ Personagens de livros de José de Alencar
* Alice Pataxó é ativista e comunicadora indígena do povo Pataxó, BA. Fundadora do Canal Nuhé, Alice é nossa convidada do mês de abril para compartilhar seus textos e reflexões aqui no Blog da Tucum.