O Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2010 como patrimônio imaterial do Brasil, um reconhecimento que celebra a riqueza e a complexidade de um conjunto de saberes profundamente enraizados na cultura dos povos indígenas da região. Este sistema agrícola vai muito além da simples prática de cultivo;ele é a base de um sistema que integra a roça, a alimentação tradicional, o artesanato e promove a manutenção e transmissão de conhecimentos ancestrais.
No coração deste sistema estão as mulheres, verdadeiras guardiãs dos saberes tradicionais. Embora o preparo inicial da terra seja feito pelos homens, são as mulheres que desempenham o papel central na continuidade e prosperidade das roças. Elas cuidam das sementes, selecionam cuidadosamente as manivas e decidem como será a ocupação e o manejo das roças. Registra-se o manejo de cerca de 100 espécies de mandioca e 300 espécies de outros tipos de plantas, configurando-se um conhecimento importante na constituição e na conservação de um amplo patrimônio biológico e cultural na Amazônia brasileira. Este conhecimento é passado de geração em geração, garantindo que as tradições sejam preservadas e que as práticas agrícolas permaneçam sustentáveis e eficazes.
As famílias da região geralmente mantêm três roças em diferentes estágios: inicial, intermediário e maduro. Essa prática não só assegura uma produção contínua de alimentos, mas também permite uma utilização sustentável da terra, evitando o esgotamento dos recursos naturais. A roça inicial representa o começo de um novo ciclo, a intermediária é o estágio de crescimento e a madura é a fase de colheita plena. Este ciclo contínuo reflete a profunda compreensão dos ciclos naturais e a habilidade de harmonizar as atividades agrícolas com os ritmos da natureza.
A alimentação tradicional que emerge deste sistema agrícola é rica e variada, profundamente conectada com a terra e com os ciclos sazonais. Além disso, o artesanato produzido pelas comunidades indígenas, utilizando materiais colhidos nas idas ás roças, é uma expressão tangível da cultura e identidade desses povos. Cada peça de arte carrega consigo uma história, um conhecimento, uma parte vital da herança cultural que é transmitida de geração em geração.
O reconhecimento do Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro como patrimônio imaterial não é apenas uma celebração das práticas agrícolas, mas uma homenagem à resiliência, criatividade e profundidade cultural dos povos indígenas da região. É um reconhecimento da importância de preservar e valorizar estes conhecimentos ancestrais que são fundamentais para a identidade e a sustentabilidade das comunidades indígenas do Rio Negro.
A roça é sinônimo da produção da vida.
Mulheres que cuidam da terra
guardam sementes
produzem alimentos
geram vidas
tramam fibras
regeneram o planeta
compartilham o bem viver