Foto de capa: Edgar Kanaykõ | @edgarkanayko
Toda semana aqui no blog, nosso radar sobre o movimento indígena
Povo Yanomami pede socorro
Diante de uma situação de calamidade envolvendo mais da metade da população contaminada pela malária e crianças adoecendo pela desnutrição causada pela doença, cerca de 1.200 indígenas seriam atendidos pela Fiocruz, que também faria um estudo sobre o impacto do garimpo na terra indígena, mas as equipes tiveram seu acesso negado pela Funai. Em resposta, a Funai alegou que “pesquisas e ingressos em terras indígenas estão, provisoriamente suspensos, devido ao surto da Covid-19”.
“Por que a Funai não proíbe a entrada dos garimpeiros? Por que está proibindo os médicos na Terra Yanomami para fazer exame?”, questiona Dario Kopenawa Yanomami, liderança e vice-presidente da Associação Hutukara, que representa o povo Yanomami.
O garimpo não para de avançar
Enquanto você lê este texto, centenas de balsas estão garimpando o leito do rio Madeira. A situação coloca é alarmante e coloca em risco não só um dos mais importantes rios da Amazônia como as populações tradicionais que vivem no entorno e toda a sociobiodiversidade da região. O garimpo não para de avançar: boatos de que ouro foi encontrado na comunidade do Rosarinho, na cidade de Autazes, no Amazonas, fez com que centenas de balsas e empurradores se dirigissem àquela região – criando um cenário de pânico e horror para todos aqueles que sabem o poder de destruição que a atividade garimpeira tem sobre os rios da Amazônia A movimentação atípica chamou a atenção da população local e mostrou como os garimpeiros operam no leito do rio Madeira – sem qualquer tipo de incômodo ou discrição, explorando ouro de maneira ilegal sem que as autoridades tomem providências. A cidade de Autazes fica muito próxima de Manaus, a capital do Amazonas: pouco mais de 110 quilômetros. A invasão dos garimpeiros àquela região foi confirmada pelo Greenpeace Brasil num sobrevoo ocorrido na última terça-feira (23). Fonte: Greenpeace.
Leia mais sobre o avanço do garimpo:
A luta pela terra dos Akroá-Gamella
Presos após impedirem obras de linhas de transmissão em seu território, indígenas do povo Akroá-Gamella (MA) são alvo de violentos ataques por se posicionarem contra empreendimentos que afetam diretamente a manutenção dos modos de vida da aldeia. As obras, licenciadas por órgãos estatais não cumprem as exigências de consulta prévia aos povos afetados diretamente pela construção das linhas de transmissão.
“As crianças tinham saído para a escola e voltaram na estrada, foi um alvoroço. Parece que queriam mesmo demonstrar força. Não houve resistência alguma por parte dos índios. Deram tiros, não sei se de borracha ou arma de fogo. E a polícia foi prendendo. Prenderam celulares, câmera fotográfica, cocar, flecha, facão. O menino menor de idade foi levado porque estava filmando. Botaram no camburão, naquela gaiola e ficavam perguntando quem é o chefe, quem é o chefe. O que fizeram foi tortura com todos”, relatou.
Leia mais sobre a luta histórica do povo Akroá-Gamella:
Amazônia Real: https://amazoniareal.com.br/indigenas-akroa-gamella-22-11-2021/
Comissão Pastoral da Terra: https://www.cptnacional.org.br/publicacoes/noticias/conflitos-no-campo/5865-cerca-de-vinte-indigenas-akroa-gamella-foram-presos-arbitrariamente-pela-policia-militar-do-maranhao
The Intercept: https://theintercept.com/2019/05/27/gamella-maos-decepadas/
Você sabe o que é racismo ambiental?
Em entrevista da revista Gama, o geógrafo e pesquisador Diosmar Filho explica melhor o tema que envolve diretamente a desigualdade racial no debate ambiental.
‘Não há como preservar o meio ambiente sem cuidar das populações marginalizadas’, afirma o pesquisador Diosmar Filho.”Quando se fala de injustiça ambiental, partimos da ideia de que existe um direito sendo violado, mas essa definição só existe para quem tem o privilégio de estar em um Estado que garante esses direitos, as pessoas brancas. Durante muito tempo, o racismo foi tirado de cena na questão ambiental, era uma questão de justiça ou injustiça ambiental. O racismo ambiental, então, fala sobre como essas injustiças ambientais privam a população negra e os povos indígenas de humanidade e direitos. Trabalho com esse termo há 15 anos e o defino como a estratificação de pessoas por raça, cor, etnia ou condições de trabalho dentro das estruturas ambientais do Estado.” Fonte: NEXO
Os últimos Piripkura sob ameaça
“Desmatamento, invasões de fazendas de gado e degradação florestal dentro da Terra Indígena Piripkura (MT) alcançam um patamar inédito”. Essa é a denúncia que evidencia o dossiê “Piripkura: Uma Terra Indígena devastada pela boiada”, lançado nesta segunda-feira (22/11) pela campanha #IsoladosOuDizimados, promovida pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi), e organizações parceiras. No documento, imagens aéreas registram como o território de Baita e Tamandua, os dois únicos Piripkura em isolamento que se têm notícia, está sendo desmatado, grilado e invadido por rebanhos bovinos. A boiada, sob conivência do Estado, está literalmente correndo solta na Terra Indígena Piripkura. Fonte: ISA
Saberes indígenas na FLIP 2021
A 19ª edição da Flip começa amanhã, 27/11 e vai até 5/12. Virtual, livre e gratuita, a Flip 2021 fala da relação entre literatura e plantas a partir de Nhe’éry. Em sua abertura, representantes do povo Guarani fazem uma cerimônia, com rezas e cantos, abrindo e protegendo os caminhos da Nhe’éry e dando permissão para a entrada da Flip em seu território sagrado. Tudo realizado na Praça da Matriz, onde havia uma aldeia indígena antes da fundação da cidade. Os povos originários que ali habitavam, e hoje resistem na região, voltam a ocupar, com suas palavras e rituais, o Centro Histórico. Carlos Papá e Cristine Takuá, filósofa e professora em escola indígena situada na Nhe’éry, são guias centrais na preparação desta edição da Flip. Nhe’éry Jerá será a oportunidade para a transmissão de suas orientações para o público e todas as pessoas que participam da Flip 2021. Saiba mais aqui.
Roda Viva Indígena
As lideranças indígenas Txai Suruí e Almir Suruí são os entrevistados do Roda Viva da próxima segunda-feira (29). É às 22h, na @tvcultura. Imperdível!
TePi- Teatro e os povos indígenas
A primeira plataforma digital dedicada ao protagonismo artístico indígena vai estrear amanhã, dia 26/11! Idealizado por Ailton Krenak e Andreia Duarte, o TePi propõe um espaço de troca entre artistas e intelectuais indígenas e não-indígenas promovendo a reinvenção da vida para o bem comum. A plataforma atua em 5 eixos de ação: Mostra Artística >> Espetáculos, Performances e Leituras Dramáticas; Encontros >> Conversas Abertas, Atos para a Cura e Práticas Pedagógicas; Internacionalização >> Encontros entre Artistas Indígenas e Programadores Nacionais e Internacionais; Paisagem Crítica >> Textos, Vídeo-Pílulas e Encontro Aberto
e Publicações >> Catálogo, E-book e Dramaturgias inéditas.
Sou moderno, sou índio
A sociedade ocidental guarda uma visão estereotipada sobre os povos originários, e é justamente esse imaginário que a série “Sou Moderno, sou índio” propõe contrapor. “Não há nada mais moderno que ser índio”. A imagem pré-concebida e vigente é aquela que diz que para ser realmente índio é preciso andar nu, falar mim no lugar de eu, ser ingênuo e não ter acesso à tecnologia. Qualquer indígena saindo desse padrão é identificado como um índio que perdeu suas raízes. Mas ser índio não é uma questão de cocar de pena, urucum e arco e flecha. Longe das figuras míticas de selvagem, preguiçoso, indolente e desinteressado, os personagens que constroem o tecido dramatúrgico da série são altamente ligados à tecnologia e participantes ativos do cotidiano urbano das mais diferentes maneiras, ao mesmo tempo em que também são intimamente ligados a seus povos e sua cultura.
Flecha Selvagem: A Selva e a Seiva
A Selva e a Seiva é mais uma flecha produzida pelo Selvagem – ciclo de estudos desta vez sobre plantas, especialmente as plantas mestras, chamadas também de plantas professoras, aquelas que abrem a percepção da realidade cósmica da vida. A Flecha 4 acompanha o percurso da luz à seiva elaborada, seu poder de visão e cura, com a consultoria do pajé Huni Kuin Dua Buse e de Cristine Takuá. O pajé Dua Buse é quem abre e encerra a Flecha, como numa cerimônia. Ele narra a história de Nixaxa Kaiani, o canto da jiboia. Dua Buse é mentor, junto com o pajé Agostinho Ika Muru, da escola viva Huni Kui, projeto que inspira todo o ciclo Selvagem.
E por falar em troca e aprendizado no caminho de abrir a nossa percepção, foi lançada uma biblioteca virtual dedicada ao pensador Ailton Krenak! Feita por voluntários do ciclo de estudos Selvagem, o acervo em constante construção reúne e organiza as falas em vídeo dele, dá pra pesquisar por assunto de forma bem simples e didática. Vai lá!