Observatório Tucum


“O importante é que tem que ter a participação dos povos indígenas na Funai. E agora uma indígena vai presidir a Fundação. Vai presidir com nome indígena. Para chegar até aqui hoje, foi um caminho longo. Muito sofrido. Muitas vidas se perderam no caminho. E ainda estão se perdendo. Agora devemos todos e todas fortalecer a Funai”
. Joenia Wapichana, em sua posse como primeira presidenta indígena da instituição. Foto: Scarlett Rocha |@scarlettrphoto

Nosso radar semanal sobre as lutas e notícias do movimento indígena

Novos tempos na Funai

Joenia Wapichana é oficialmente presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), emprestando seu pioneirismo à entidade que nunca teve um indígena na presidência. Primeira mulher indígena advogada do Brasil, primeira indígena eleita deputada na Câmara dos Deputados e primeira advogada indígena da história a se pronunciar no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), durante a homologação que definiu os limites contínuos da Reserva Raposa Serra do Sol, em 2008. Durante o julgamento, Joenia Wapichana se tornou a primeira advogada indígena a realizar uma sustentação oral no Plenário da Suprema Corte, iniciando sua fala na língua originária do povo Wapichana. A decisão do STF reconheceu mais de 1,7 milhões de hectares destinados à proteção de cinco etnias daquele território, beneficiando quase 20 mil indígenas.

“Novos tempos para o Brasil! Pela primeira vez, teremos a Funai presidida por uma mulher indígena. Serão muitos desafios, mas juntos vamos trabalhar e reerguer nossa casa! Presidente Lula, obrigada pela confiança!”, disse a nova presidente da Funai em sua rede social.

Em uma cerimônia histórica e emocionante, marcada por rituais e danças tradicionais, com a presença de autoridades e lideranças indígenas , indigenistas e representantes da sociedade civil, Joenia foi vestida pelo cacique Raoni Metuktire com o colete da Funai. Ao citar a presença de representantes indígenas à frente de importantes cargos institucionais no atual governo, Raoni lembrou da responsabilidade dessas jovens lideranças. “Nós indígenas, e principalmente os jovens, têm que assumir esses órgãos e trabalhar para nosso povo indígena”. Ao final, o cacique do povo Metuktire [Kayapó], reafirmou a importância da convivência pacífica entre indígenas e não indígenas. “Nós brasileiros precisamos conviver em paz e de forma harmônica no nosso território”, conclui o cacique. Fonte: Agência Brasil.

 “A destruição de nossos territórios não pode mais continuar acontecendo. Essa terra é indígena. Povos indígenas moravam nesse território. São histórias que meu pai e meus avós me contavam. Nós precisamos de paz”, disse a liderança do povo Kayapó, cacique Raoni. Foto: Joedson Alves/Agência Brasil.

Bancada do cocar

Entre cantos, danças, rezas, cocares, maracás e muitas cores, a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara (PSOL-SP) contaram com a presença das mulheres-biomas durante cerimônia de posse ancestral, no Centro de Formação em Política Indigenista da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em Sobradinho (DF).  A celebração aconteceu em paralelo à posse oficial das parlamentares, na Câmara dos Deputados, e fez parte da programação da Pré-Marcha das Mulheres Indígenas, que aconteceu de 29 de janeiro a 1 de fevereiro. Leia mais aqui na cobertura feita pelo ISA.

Célia Xakriabá e Sonia Guajajara celebram posses em Sobradinho (DF), com a benção das mulheres-biomas. Foto: Benjamin Mast/ISA

“Estamos construindo uma nova história, onde nós marcamos o começo da política indígena do Brasil. Até então, era uma política indigenista, onde outras pessoas, não indígenas, discutiam, construíam, representavam. Hoje é a política indígena, onde nós estamos ocupando o lugar de pensar, de construir e de executar”, destacou Sonia Guajajara. Fonte: Gov.br

Ouro lavado em sangue yanomami

Investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal revelaram que ouro ilegal Yanomami foi comercializado por atravessadores para instituições financeiras acusadas de danos ambientais na Amazônia e lavagem de ouro no Pará. Enquanto empresários enriquecem e atuam livremente na Amazônia, crianças da etnia Yanomami enfrentam uma tragédia sanitária e de violação de direitos humanos. A região parece ter regredido 30 anos nos últimos quatro. Leia mais na reportagem da Repórter Brasil.

Fora, garimpo!

A previsão do início da operação federal com auxílio das Forças Armadas de desintrusão dos garimpeiros na terra indígena Yanomami já começou a provocar a fuga de grupos ligados ao garimpo da região. A ação de “estrangulamento”, que consiste em dificultar a chegada de combustível e alimentação nas áreas de garimpo e neutralização das bases da atividade ilegal é a primeira fase da operação, em fase de implementação. Fonte: O Globo ; G1.

Planejamento inclui envio de pelo menos 500 homens de diversas forças e cerco logístico para impossibilitar permanência de garimpeiros na floresta. Foto: Reprodução.

A advogada Juliana Batista, do Instituto Socioambiental (ISA) falou sobre os bastidores da estrutura política do garimpo na entrevista ao podcast 8 em ponto.

Ouça a entrevista na íntegra aqui.

ATL 2023

A luta contra a violência enfrentada pelos povos indígenas já mobiliza a construção de agenda unificada para o Acampamento Terra Livre 2023. A APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil faz este chamado para os parentes, lideranças, caciques e cacicas, jovens, mulheres, idosos, guerreiros e guerreiras das bases para mobilização para a maior assembleia dos povos indígenas do Brasil. As temáticas abordadas, em 2023, estão em processo de debate pelas organizações indígenas que compõem a Apib e a programação do ATL 2023 deve ser divulgada no mês de fevereiro.

A arte-encanto de Daiara Tukano

A artista, ativista, curadora e educadora Daiara Tukano abriu há poucos dias sua primeira exposição individual de sua carreira na Galeria Millan, São Paulo. Amõ Numiã apresenta a origem feminina da criação nas culturas indígenas. Daiara também é curadora da mostra Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação, em curso no Museu da Língua Portuguesa, e foi uma entre os cinco artistas indígenas brasileiros (ao lado de Sueli Maxakali, Jaider Esbell, Uýra e Gustavo Caboco) a ter seus trabalhos expostos na 34ª Bienal de São Paulo, em 2021. Na entrevista à Amazônia Real que a gente replica aqui nesta edição do Observatório Tucum, Daiara fala sobre seu percurso artístico num mercado de arte ainda muito distantes da perspectiva indígena de criação e o conceito de arte indígena contemporânea, forjado pelo artista Jaider Esbell que também era seu companheiro. Leia a entrevista completa: https://amazoniareal.com.br/especiais/daiara-tukano/

Na cabeça do não-indígena, o contemporâneo moderno é o atual, existe essa coisa da fragmentação do tempo. Nossa luta e a nossa existência e a nossa percepção de mundo são contínuas, entendeu? “, provoca a artista Daiara Tukano em entrevista à Amazônia Real. Foto: Racismo Ambiental

Etnomídia indígena

A exposição Nhande Marandu – Uma História de Etnomídia Indigena está em cartaz até 26 de fevereiro, no Museu do Amanhã. A mostra apresenta produções contemporâneas dos povos indígenas, mostrando como eles já fizeram e fazem comunicação, analógica e digital, através de comunicadores e artistas que se apropriam de múltiplas linguagens e mídias para (re)produzir suas próprias narrativas, sem os estereótipos impostos pela cultura colonial dominante.
Desde a curadoria, realizada por Anápuáka Tupinambá, Takumã Kuikuro, Trudruá Dorrico e Sandra Benites, passando pela identidade visual, redação e tradução de textos, produção audiovisual e sonora, profissionais indígenas participaram de todo o processo criativo. O fio condutor da mostra é a autoria indígena. O acervo conta com obras de Denilson Baniwa, Ailton Krenak, Zahy Guajajara, Sallisa Rosa, Jaider Esbell, Gustavo Caboco, Brisa Flow, entre tantos artistas e comunicadores contemporâneos, que dão vida a essa exposição. Inscreva-se aqui

Seminário Amazônia 
No dia 7 de fevereiro, Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, apresentamos em nosso auditório, às 10h, o Seminário Amazônia. Numa conversa sobre os pontos que a exposição Amazônia levantam e como a contribuição das narrativas artísticas indígenas são importante para preservação da floresta, o seminário contará com a presença da artista We’ ena Tikuna, o escritor Cristiano Wapichana e o fotógrafo Sebastião Salgado que estará por videoconferência. Para se inscrever, acesse.

Moda, ativismo e ancestralidade

 “Qual é o conhecimento que Elle, Vogue, Glamour têm para falar de nós? Para eles somos todos Tupi. Falar da pauta indígena é difícil e nunca vão aceitar que não sabem. As pessoas querem falar da Amazônia, mas não querem se deslocar”, diz o estilista Sioduhi na reportagem da Sumaúma.

O estilista amazônida Sioduhi escolheu orgulhoso as peças de sua última coleção, a ManioQueen, para vestir sob medida o jornalista ribeirinho Maickson Serrão, apresentador da Rádio Sumaúma, durante sua passagem pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Expoente indígena do design de roupas, o estilista mostra como o que vestimos é escolha política. Na reportagem da agência Sumaúma, ele conta porque decidiu deixar São Paulo no auge da fama nas passarelas convencionais para para se “desembolhar”, uma palavra que inventou para explicar o processo em que sente que está desenraizando e esquecendo a própria realidade. Leia a matéria de Veronica Goyzueta na íntegra na Sumaúma. 

Desfile da Sioduhi Studio na 6ª Brasil Eco Fashion Week, 2022, São Paulo. Foto: Marcelo Soubhia.