Foto de capa: Alass Deriva |@derivajornalismo
A Tucum esteve em Brasília na semana passada para acompanhar a II Marcha das Mulheres Indígenas e o que vivemos lá ainda reverbera de forma intensa e imensa por aqui. Depois de uma imersão de três dias com a comunicadora e liderança Alice Pataxó, a atriz e performer indígena Lian Gaia, a sócia-fundadora e diretora criativa da Tucum Amanda Santana e essa que vos escreve, chegamos a uma Brasília dividida entre a hostilidade de fanáticos pró-governo e a expectativa do julgamento em pauta há semanas no STF que vai determinar o futuro das terras indígenas.
Nos arredores da Esplanada dos Ministérios, o ar seco do cerrado se misturava à tensão pelo aguardo da votação do “marco Temporal”e à insegurança causada pelas ameaças recebidas por representantes da lógica anti-indígena e antidemocrática em curso no país. No entanto, a força que emanava das cinco mil mulheres indígenas que ocupavam o acampamento na Funarte transformava o clima tenso em presença através de seus corpos, falas, danças, cantos e rezos.
Quem teve a chance de visitar ou acompanhar pelas redes o que acontecia no acampamento nos dias que antecederam a Marcha, pôde sentir um pouquinho do que acontece quando mulheres precisam deixar suas aldeias, suas casas e famílias para marchar pela vida. A palavra potência era a cada dia, a cada conversa, a cada plenária, ressignificada.
A II Marcha das Mulheres Indígenas partiu da Funarte na manhã do dia 10 de setembro em direção à praça Galdino, onde o cacique do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe foi assassinado por jovens da classe média brasiliense em 2007. No caminho, mulheres indígenas faziam ecoar suas vozes e maracás pelas ruas da capital. Entre anciãs, lideranças e meninas que saíam de suas aldeias pela primeira vez, representantes de mais de 185 povos originários entoavam seus cantos na mesma altura de discursos combatidos lembrando que são cidadãs de um Brasil que é todo terra indígena. O Eixo Monumental em Brasília foi palco de uma manifestação pacífica, consciente, colorida, diversa e poderosa, trazendo todos os biomas do país nas vozes de milhares de guerreiras que atuam na defesa de seus territórios e vidas. Acompanhar essas mulheres e marchar ao lado delas foi uma experiência inesquecível e que ainda vai se desdobrar por aqui em conteúdos criados por muitas mãos. Aguardem 🙂
Julgamento suspenso
Mais uma vez, o julgamento que pode definir o futuro dos povos indígenas no país foi adiado e desta vez sem data de retornar à pauta no supremo. No meio da tarde desta quarta (15), o ministro Alexandre de Moraes pediu “vistas” para analisar melhor o processo que discute as regras sobre o reconhecimento das Terras Indígenas (TIs) no Supremo Tribunal Federal (STF) e a tese do marco temporal. Fonte: ISA
Raoni – guerreiro guardião
Ropni Metyktire, mais conhecido como Cacique Raoni, liderança Kayapó, recebeu o prêmio de Membro Honorário por ocasião do Congresso Mundial da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), como reconhecimento pelo excepcional serviço para a conservação da natureza e dos recursos naturais, além da sua contribuição para alcance dos objetivos da União. A indicação de Cacique Raoni ao prêmio foi feita pelo Instituto Sociedade, População e Natureza. Raoni enviou mensagem pedindo o fim da guerra contra os povos originários do Brasil e o fim do desmatamento.
Muita terra pra pouco índio?
Estado com mais conflitos envolvendo áreas indígenas, o Mato Grosso do Sul é também vice-campeão nacional em concentração de terras. O MS concentrou 39% dos 1.367 assassinatos de lideranças indígenas ocorridos no Brasil, entre 2003 e 2019, conforme o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Só em 2019, o estado registrou 10 mortes, o maior número entre as 35 observadas nacionalmente. Fonte: ISA
“O perigo é corrupto”
Em entrevista para a National Geographic, o líder e xamã do povo Yanomami Davi Kopenawa Yanomami fala sobre a luta contra as ameaças que chegam através das invasões de seus territórios e os perigos que rondam os povos indígenas no Brasil. Fonte: National Geographic / via @carvalhando
Artesanato e resistência
A Parceiros pela Amazônia (PPA) é uma rede colaborativa criada para fomentar novos modelos de desenvolvimento sustentável na Amazônia da qual a Tucum faz parte. O GT Mercados da PPA organizou o primeiro evento aberto da série “Diálogos em Rede” e teve participação de Marciely Tupari e Fabricia Sabanê, gestoras da loja TECE-AGIR, Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia falando entre outras coisas, como o acesso a mercados digitais de venda do artesanato contribui para a autonomia de artesãs indígenas em Rondônia. Fonte: PPA
Semana da Arte Indígena Contemporânea
O Ponto de Cultura Sem Início Sem Fim em parceria com a Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea apresentam a Semana da Arte Indígena Contemporânea que vai até dia 18 de setembro de forma virtual aqui na nossa rede Nhexyrõ. O podcast é apresentado por Jaider Esbell e Idjahure Kadiwel e os episódios trazem onze artistas indígenas de diferentes lugares do país. Denilson Baniwa, Jerônimo Vherá Tupã, Raquel Kubeo, Patrícia Ferreira Yxapy, Juliana Kerexu, Carmézia Emiliano, Mestra Iracema Kaingang, Gustavo Caboco e Ailton Krenak estão entre os convidados. Para começar a ouvir, clique aqui
Krenak para ouvir
O Tempo virou é um podcast de Giovanna Nader que recebe convidados para falar de educação socioambiental e alternativas para refletir e viver melhor em tempos de esgotamento hídrico, crise sanitária e abismos entre a lógica de produção e a conexão com o que chamamos de recursos naturais do planeta. Para encerrar a segunda temporada, ela recebeu o filósofo e líder indígena Aílton Krenak para um papo imperdível sobre maneiras de sobreviver em meio ao caos e adiar o fim do mundo.