Fechar os olhos, contar de 1 até 20, se esconder pra ser encontrado, correrias, queda, sorrisos, TE ACHEI!
Quando foi que deixamos de brincar e começamos a fazer apenas coisas de adultos? Jogar-se sem medo de cair é quase um desejo de ouvir o coração da Terra bater. As crianças mostram caminhos possíveis, brincam com os significados da vida e deslumbram as possibilidades de existência. É muita energia, é muita criatividade; diria que é a própria ancestralidade em vida, movimentando-se em um tempo espiral. Para a mente de um curumim, o tempo não corre, tampouco anda; o tempo nem existe. Vai ver que o tempo está sendo inventado pelas crias, e o território vivo é feito com a presença delas.
Enquanto escrevo, busco lembrar dos meus momentos de infância, acionando memórias dos primeiros desenhos, cheiros e emoções—todas as primeiras experiências de sentimentos vividos. Ser criança é sentir primeiro, é perceber primeiro, é observar primeiro, é criar primeiro. Se estamos sendo convocados para a reconexão com nossa irmã natureza, nossa Mãe Terra, então é preciso começar pelo envolvimento com as crianças, acreditar nelas! É uma aposta desafiadora, mas gratificante e benéfica, pois acreditar nas crianças é acreditar nas energias que vibram o tempo todo e nas que nos fazem dançar cosmicamente, como diz Ailton Krenak.
Se estamos sendo pressionados a nos desculpar com o planeta, se precisamos “adiar o fim do mundo” que nós mesmos criamos, é fundamental pensar nas crianças. Fortalecer os primeiros passos de quem pisa na Terra, abrir caminhos para quem pronuncia as primeiras palavras e assegurar o acesso aos direitos da vida de quem em breve vai nos chamar para brincar. A vida das crianças não é transeunte; ela deixa vestígios potentes, rastros que se entrelaçam com afeto, amor, desafios e problemas, mas também respostas que, às vezes, não cabem em nossos modos de vida e nas rotinas adoecedoras impostas pelo capitalismo.
Ao observar o mundo pelos olhos de uma criança, podemos redescobrir a beleza da vida, a esperança nas escolhas e a curiosidade de inventar e se arriscar. Quando eu era criança, gostava de desmontar as coisas e tentar remontá-las. Gostava de pular no rio sem medo, corria das abelhas depois de mexer com elas de propósito. Ainda guardo a vontade de ser criança, de rever o rio, ouvir o som das folhas ao vento e sentir o calor do sol nas costas após um dia correndo no quintal. Lembrar da infância nos conecta com o passado, e a emoção que nos toma posiciona no presente, enquanto o desejo de esperança nos leva ao futuro. Eis aqui um caminho encontrado: as crianças.
Então, colocaremos maracás nas mãos delas, distribuiremos tintas coloridas, roupas de teatro, instrumentos musicais, sprays para graffiti. Cantaremos com as crianças e criaremos mil e uma possibilidades. Transformaremos com elas. Quando o medo do futuro surgir, quando acharmos que não há mais jeito, e o coração se encolher diante de notícias trágicas, seguraremos as mãos das crianças. Ao começarmos a criar juntos, quebraremos o tempo como o conhecemos, criando novos tempos só nossos. Vamos?