São muitas as curvas do rio que nos conduzem à Reserva Indígena do rio Gregório, sudoeste da Amazônia brasileira onde vivem os Yawanawa, o povo da queixada (yawa).
Segundo seus ancestrais, os Yawanawa habitam desde tempos imemoriais a cabeceira do rio Gregório. Logo nos primeiros contatos com os não-indígenas, no séc. XIX, esta etnia enfrentou duras batalhas contra o genocídio de seu povo, escravizado por seringalistas que se diziam donos de suas terras. Junto com a escravidão dos seringais vieram os missionários da Missão Novas Tribos Brasil para “evangelizar” os indígenas, reprimindo suas expressões artísticas, manifestações culturais e espirituais, impondo a cultura ocidental cristã ao povo Yawanawa.
Apesar de terem tido seu território demarcado em 1977, só em 1982 conseguiram expulsar todos os intrusos não-indígenas de seu território. Em 2002, exigem uma revisão dos limites de suas terras e só em 2008 conseguem a ampliação do território Yawanawa e Katukina, parentes habitantes da mesma reserva no rio Gregório, hoje com 200 mil hectares de terra.
Também em 2002, acontece uma grande reflexão de toda a comunidade sobre quem os Yawanawa um dia foram, o que eram e o como se enxergavam no futuro. Em 04 de outubro daquele ano, jovens e anciãos realizaram uma grande reunião para discutir sobre seu passado, presente e futuro. Toda a cultura e espiritualidade estavam adormecidos e a forma que encontraram para sair deste torpor foi a realização de um festival reunindo toda a comunidade.
Desde então, os festivais Mariri, na Aldeia Mutum e o Yawa, na Aldeia Nova Esperança, acontecem anualmente, realizando suas cerimônias e rituais sagrados, contando sempre com a força das medicinas sagradas da floresta, como o “Uni” (Ayahuasca) e o “Humê” (rapé). Durante muito tempo, como resquício da “evangelização”, estes rituais ficaram restritos aos homens mais velhos, que se escondiam do resto da comunidade para realiza-los.
Foi no início dos anos 2000, que as jovens Hushahu e Putani recorreram aos pajés Tatá e Yawarani para iniciarem seus trabalhos no mundo espiritual. Nunca antes na cultura Yawanawa mulheres tiveram a permissão para se tornarem pajé e muitos homens desacreditaram da determinação das duas. Durante noves meses elas passaram por uma rigorosa dieta: sem água, comendo quase nada, tomando Uni e Humê todos os dias, juraram dedicação aos espíritos ancestrais, comprometendo-se a aprender e ajudar seu povo na manutenção de sua ciência tradicional.
Com o passar do tempo elas ganharam o respeito de todo o povo Yawanawa, sendo peças-chave no processo de resgate da língua, da cultura e da espiritualidade, processo que tem sido o motor dos Yawanawá e tem reflexo direto na produção artística e artesanal deste povo.
Em junho, a Tucum esteve no Rio Gregório para dar início há um importante trabalho junto às mulheres artesãs, que estão espalhadas em 7 aldeias. Juntas elas criaram um empreendimento social que além de gerar renda sustentável para suas famílias, promove toda a beleza da cultura Yawanawá.
No nosso próximo post vamos contar como foi nossa viagem até a Aldeia Mutum e um pouco do trabalho que realizamos por lá.