Essa semana recebemos a visita de seu Anapuatã Mehinako, artesão da etnia Mehinako que vive na aldeia Uyapiyuku, no Parque do Xingu.
Anapuatã é um grande artista que constantemente nos envia suas criações, feitas em sua maioria de madeira de Sucupira, abundante na região. São animais de madeira, máscaras e zunidores, esculpidos pelas mãos experientes e cheias de histórias para contar.
Ele dividiu com a gente algumas histórias, uma das delas sobre o zunidor (objeto composto por uma haste com uma placa de madeira na ponta que, quando girada, produz um zunido) e nos ensinou a usá-lo. Em suas palavras: “o zunidor tem dono, ele é o espírito do peixe Matrinxã, que tá dentro da água. Dai quando você for pescar com a canoa você vai levar ele. E você chega lá mesmo (no rio) com ele e o peixe vem. Junta muito peixe, um de cada tipo: piá, pacu…Para pescar a gente usa arco e flecha.”
Cada peça feita e usada pelos Mehinako carrega uma história e significado, que são passados oralmente de geração em geração. É comum que uma peça feita por eles tenha relação com um ou mais espíritos que vivem na floresta, como no caso do zunidor, que representa o espírito do peixe e do pequi.
O pequi é um fruto muito importante para essa etnia. Segundo Anapuatã, ele alimenta os índios, quase todos os animais, desde aves, bichos que vivem na terra como o tatu, até peixes. De acordo com as crenças dos Mehinako, as plantações são o lar dos espíritos que são os verdadeiros donos do pequi e entre os espíritos-donos das plantações está matapu, o espírito do zunidor, foco de um importante ritual de três dias. No curso deste ritual, os habitantes da aldeia fazem zunidores, que são pendurados nas casas dos homens e são mantidos à distância das mulheres da aldeia.
Outra espírito que tem uma ligação direta com o pequi é o espírito do beija-flor ou Ahira, como eles o chamam. Anapuatã conta que “antigamente, muitos anos atrás, acabou o pequi, não tinha mais nada. O beija-flor procurou o pequi, a flor do pequi e ele que mostrou pro índio onde tinha pequi. Ele foi longe, voltava e trás a florzinha, que cai no chão e o pequi nasce. A gente foi atrás, seguindo o caminho do beija-flor, achamos um pé de pequi. Embaixo já tinha caroço, pego, racho ele e já tinha pequi bem vermelho, bem gostoso, sabe?
Quem que pego o pequi contou pro pessoal também:
– eu achei uma fruta!
– quem contou pra você?
– o beija-flor que tá lá.
– vamo lá vê?
Ele chamou duas pessoas, ai pego a semente deles e levou pra roça. Em um mês já tava brotando já, um ano já tava grande. A gente cato o pequi e planto em várias aldeias graças ao beija-flor que ensinou tudo.”
Ficamos muito felizes com essa visita, com a oportunidade de receber uma parte da cultura imaterial desse povo, revelando que essas peças, além de belas, carregam em si múltiplas historias que trazem à tona as linhas invisíveis que sustentam a cultura desse povo.
Para conhecer melhor o trabalho de seu Anapuatã é só clicar aqui: http://loja.tucumbrasil.com/grupo/18732
Artigo escrito por Chris Igreja