Dia Mundial do Meio Ambiente: o que podemos aprender com os povos indígenas?

Na data que passou a ser dedicada ao meio ambiente em 1972 pela ONU, destacamos a importância de contribuir com a manutenção dos modos de viver e os saberes tradicionais de povos guardiões de mais de 80% da biodiversidade do planeta

A relação entre a humanidade e o meio ambiente ao longo da História é marcada por grandes impactos no equilíbrio da sociobiodiversidade do planeta. Ao longo dos séculos, em nome de uma ideia predatória de desenvolvimento,  a busca pelo lucro resultou em uma exploração desenfreada dos recursos naturais, sem considerar as consequências devastadoras para os biomas e seus povos guardiões. 

Processos como industrialização sem estudos de impactos prévios, poluição atmosférica e hídrica, expansão urbana desordenada,práticas predatórias como a agricultura intensiva, a contaminação pelo uso de substâncias altamente tóxicas, a invasão de territórios ancestrais, o desmatamento das florestas e degradação dos recursos são alguns exemplos alarmantes dessa exploração perigosa que mostra seus efeitos de destruição e desequilíbrio, como o caso das enchentes do Rio Grande do Sul mais recentemente no Brasil. 

Desmatamento no município de Apui, no sul do Amazonas | foto: Lalo de Almeida/folhapress

As mudanças climáticas que culminam em tragédias humanitárias são resultado da ação predatória de empresas, governos e iniciativas humanas; é o homem contra o próprio homem. A poluição dos oceanos causada pelo despejo de milhões de toneladas de plástico e outros resíduos ameaçam a vida marinha e contaminam toda a cadeia alimentar. As atividades de pesca excessiva e destrutiva, como a pesca de arrasto, também contribuem para a degradação dos ecossistemas marinhos, esgotando populações de peixes e danificando habitats submarinos. A Atividade garimpeira defendida por parlamentares e empresários vem adoecendo e dizimando populações indígenas e ribeirinhas inteiras, como os casos gravíssimos dos Yanomami e dos Munduruku, entre outros, que convivem com altos níveis de contaminação por mercúrio, através do principal alimento proteico de suas dietas tradicionais, os peixes. Má formação de fetos, comprometimento cognitivo, incidência de tremores, queda de cabelo, além da enorme quantidade de pessoas com malária e outros sintomas que advém da mineração ilegal. O rastro de violência que se impõe a estas comunidades junto com o garimpo também resultam em estupros, prostitução em troca de alimentos e perseguição de lideranças. A morte do que entendemos como natureza provoca a morte de seus maiores protetores.

O que podemos aprender com os povos indígenas?

Os povos indígenas, assim como outras populações tradicionais, possuem conhecimentos ancestrais de profunda conexão com o ambiente que os cercam, que se refletem em suas práticas sustentáveis e em suas visões de mundo. Para os povos indígenas, a terra não é um recurso a ser utilizado, mas uma entidade viva com a qual têm uma relação de reciprocidade e respeito. Quando o líder e xamã do povo Yanomami Davi Kopenawa fala que a floresta sustenta o céu, e com a derrubada das árvores, o céu cairá sobre nossas cabeças ele compartilha a cosmovisão de seu povo, onde não há separação entre natureza e pessoas.

Algumas comunidades indígenas da Amazônia, por exemplo, empregam técnicas de manejo florestal que promovem a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas. Uma dessas técnicas é o cultivo em sistemas agroflorestais, onde diferentes espécies de plantas são cultivadas juntas, imitando a estrutura de uma floresta natural. Isso não só mantém a fertilidade do solo, mas também oferece proteção contra pragas e doenças. 

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Os povos indígenas desempenham papel crucial na conservação da biodiversidade. Suas terras abrigam uma rica diversidade de espécies da fauna e flora, utilizando um vasto conhecimento sobre as propriedades medicinais das plantas, o que pode ser vital para a pesquisa e o desenvolvimento de novos medicamentos. A proteção de suas terras, seus modos de viver e culturas constituem a salvaguarda de recursos preciosos que são patrimônio de toda a humanidade.

Foto: helenapcooper/ campo Krahô

A sabedoria indígena nos ensina que a relação respeitosa com o que chamamos de natureza é não apenas possível, mas essencial para a sobrevivência do planeta. Integrar os conhecimentos tradicionais com as tecnologias modernas pode levar a soluções inovadoras e eficazes para os desafios ambientais que enfrentamos hoje. A agricultura sustentável, a gestão de recursos hídricos e as práticas de conservação de energia são áreas onde os saberes indígenas podem oferecer percepções valiosas. Adotar modelos de desenvolvimento sustentáveis que respeitem os limites naturais, garantindo os direitos territoriais e de intelectuais dos povos indígenas é urgente. É nosso dever reconhecer a sabedoria desses povos e aprender com eles sobre proteção territorial, equilíbrio socioambiental, segurança alimentar e manutenção de culturas ancestrais.