Curso à distância capacita gestores e comunicadores de organizações indígenas na venda online de seus artesanatos.
Após oito anos de experiência na comercialização, assessoria e estruturação da cadeia produtiva do artesanato tradicional brasileiro, a Tucum Brasil lança o Curso de Venda online de Artesanatos Indígenas com a expectativa de compartilhar aprendizados e contribuir com a autonomia dos empreendimentos indígenas
Voltado a artesãos e gestores vinculados à iniciativas de comercialização de artes indígenas, o Curso de Venda Online de Artesanatos Indígenas foi idealizado para acontecer presencialmente nas aldeias e comunidades mas precisou ser redesenhado para atender às necessidades impostas pela pandemia. O curso teve início em 25 de setembro e segue até 23 de outubro com a participação de representantes de seis organizações indígenas: AFP – Associação Floresta Protegida, do povo Kayapó Mẽbêngôkre (PA), AGIR – Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia, Casa de Cultura Karajá (TO), Wariró Culturas Indígenas da Amazônia, Galeria Amazônica e Arte Baniwa (AM).
As aulas expositivas são conduzidas por professores e facilitadores que apresentarão o conteúdo com suporte de recursos audiovisuais, dinâmicas e exercícios práticos entre os módulos. As aulas gravadas estarão disponíveis no Ambiente de Aprendizagem online da Academia dos Saberes Indigenas Uk´a (https://academiauka.com.br/), iniciativa do parente Daniel Munduruku.
A capacitação, que ao longo de nove encontros vai abordar todas as etapas relacionadas à venda online de artesanato indígena, é um piloto que fará parte do lançamento da plataforma de Marketplace da Tucum, um canal de vendas exclusivo pensado para promover a venda de artesanatos e iniciativas indígenas para o consumidor final. Ainda em fase de desenvolvimento, a plataforma vai abrigar as lojas das organizações que estão participando deste piloto. Assim, cada iniciativa poderá colocar em prática o conteúdo discutido nas aulas.
“As organizações indígenas de comercialização do artesanato já entenderam a importância de posicionar seus produtos online e diversificar seus canais de venda. Percebem também a importância de comunicar a origem destes artesanatos e o impacto socioambiental que eles proporcionam na vida das artesãs e seu territórios. Esperamos contribuir para o protagonismo dos empreendimentos indígenas, com a devida valorização de suas artes e suas culturas.”, explica Amanda Santana, Diretora Criativa e Sócia-fundadora da Tucum Brasil.
Dividida em cinco módulos temáticos, a jornada começa com um panorama detalhado do mercado de e-commerce para que cada organização selecione um grupo de produtos com os quais vão trabalhar ao longo de todo o programa. Depois da etapa de curadoria, os participantes aprenderão técnicas de fotografia de produto no módulo 2 para então dar início ao processo de digitalização e criação de identidade online de cada artigo ao longo das aulas do módulos 3. Os encontros do módulo 4 abrangem os conceitos de comunicação e marketing, propondo o exercício de contar a história por trás de cada produto, valorizando o processo criativo que envolve a feitura de um produto artesanal. O módulo de encerramento do percurso será a efetivação da venda: à medida em que estes produtos já fotografados e cadastrados forem comprados, cada organização será responsável pelo envio e a Tucum dará todo o suporte no acompanhamento do pedido até o pós-venda.
O primeiro módulo do Curso de Venda Online de Artesanatos Indígenas foi uma oportunidade de ver que assim como a equipe da Tucum, os gestores e artesãs indígenas também estão animados e vêem como oportunidade essa troca de saberes. Coordenadora da AGIR, a guerreira Maria Leonice Tupari compartilhou sua visão sobre a importância da venda online para as artesãs da Associação:
“Participar dessa oficina é muito importante, principalmente para as meninas que são as gestoras da loja, são elas que estão à frente desse trabalho. É bom para que possam passar as experiências delas e buscar as experiências de quem já trabalha há bastante tempo com essas ferramentas tecnológicas que a gente antes não usava tanto. Agradeço pela oportunidade de participar junto com as outras organizações que estão presentes.”
À frente da loja da Associação, a TECÊ – AGIR, Marciely Tupari, completou a fala de Leonice ressaltando que ampliar as possibilidades de venda do artesanato para o ambiente online é uma forma de avançar no trabalho de promover as criações de artesãs dos mais de 56 povos que compõem a AGIR. “É uma forma de gerar autonomia financeira para estas guerreiras e suas famílias. Muitas dessas mulheres estavam deixando de produzir o artesanato, porque não tinha pra onde vender ou muitas vezes não era valorizado como deveria ser. A gente espera conseguir atender todas as mulheres aqui do estado. “
Samuel Karajá é liderança do povo autodenominado Inã e aproveitou para contar um pouquinho da história da Casa de Cultura Karajá em sua apresentação:
Percebemos que tinham muitos atravessadores [no intermédio da venda] e gente comprando nosso artesanato por um preço muito pequeno. Aí as lideranças se reuniram e criamos a nossa Casa de Cultura em 2002 como uma tentativa de fazermos nós mesmos a gestão da venda do nosso artesanato, que vem de 23 aldeias espalhadas pelo MT, GO e TO. Para nós é uma satisfação começar este treinamento e aprender mais coisas. “
Após quase duas horas de trocas, exercícios e dinâmicas em grupo, a participação de Samuel teve destaque especial no encerramento do primeiro encontro do programa: “Hoje a gente tem consciência de que precisa conservar nossa cultura, nossas raízes. Então eu vou cantar aqui uma música que faz parte do ritual de iniciação dos meninos do nosso povo, que é o canto ao pirarucu.”
No próximo post, a gente conta como foi o módulo 2 do nosso Curso de Venda Online de Artesanatos Indígenas. Não perde!
