Foto: Arturo Peña Romano Medina
O ritual de iniciação feminina dos Ticuna, conhecido como Festa da Moça Nova ou Worecütchiga. O ritual marca a transição das meninas para a vida adulta e é um dos mais importantes eventos sociais e espirituais dos Ticuna. Para os Maguta, se o ritual parar de ser feito o mundo também irá acabar, é durante o ritual que os Ticuna podem revisitar o tempo antes do tempo.
A Festa da Moça Nova começa com a menarca, a primeira menstruação da jovem, momento em que ela é colocada em reclusão em um ambiente construído com paredes de talos de buriti. Durante este período de isolamento, que pode durar dias, semanas, meses ou anos, a jovem recebe ensinamentos místicos e orientações de sua mãe e tias, sendo protegida de maus espíritos. Esse isolamento inicial é crucial para a preparação da jovem para a fase adulta, oferecendo um espaço para aprendizado e reflexão.
Os preparativos para a festa incluem a plantação de uma roça de mandioca para a produção do pajuaru, uma bebida alcoólica fermentada, além de caçadas e pesca para garantir a alimentação da cerimônia. A casa de festa é reformada para receber os convidados, que incluem familiares e membros de outras comunidades. A coletividade é uma característica marcante desse ritual, reforçando os laços entre as famílias e comunidades envolvidas.
Durante a festa, os mascarados desempenham um papel central, simbolizando a luta contra os maus espíritos. As máscaras, feitas de fibras naturais e pintadas com tintas de origem vegetal e mineral, representam animais e figuras míticas, remontando a um tempo em que humanos e animais não eram diferenciados. A dança dos mascarados, conhecida como To’ü, é caracterizada por pulos e giros, combinando elementos de medo e diversão, reforçando a conexão entre o mundo espiritual e a comunidade.
A simbologia presente na Festa da Moça Nova é rica e diversificada. Os bastões de dança, as cuias para o pajuaru e as máscaras dos curacas são todos elementos que carregam significados profundos e estão intrinsecamente ligados à cosmologia Ticuna. As máscaras, em particular, representam a ligação entre o mundo dos humanos e o mundo dos espíritos, remontando a um tempo em que não havia distinção entre eles.
Para os Ticuna, a Festa da Moça Nova não é apenas uma celebração da passagem da infância para a vida adulta, mas também uma reafirmação de sua identidade cultural e espiritual. A continuidade da Festa da Moça Nova, mesmo em face das influências externas e das mudanças sociais, demonstra a resiliência e a vitalidade da cultura Ticuna. A celebração é um testemunho da importância da manutenção das tradições indígenas e garantir que elas sejam transmitidas às futuras gerações.
Além de sua importância cultural, a Festa da Moça Nova tem um papel significativo na coesão social dos Ticuna. Ela fortalece os vínculos entre os membros da comunidade e promove a solidariedade e a cooperação. O ritual também aborda inúmeras significâncias que fazem parte da cultura do povo Ticuna, se tornando o ritual mais importante em sua cultura.
Fontes: Scielo e Livro: A festa da moça nova – Edson Matarezio