II Marcha das Mulheres Indígenas

Direto de Brasília, a Tucum acompanha a mobilização da II Marcha das Mulheres Indígenas que vai até o próximo dia 11

Mulheres Kayapó. Foto: Andressa Zumpano

Desde 22 de agosto, indígenas de todo o Brasil ocupam Brasília em defesa dos seus direitos, na luta por suas vidas e seus territórios à espera do julgamento da tese do “marco temporal” no STF. Enquanto isso, mais de cinco mil indígenas fazem de Brasília seu território no Acampamento Luta pela Vida. A apreensão em torno da chegada de delegações indígenas a uma capital federal que amanhece todos os dias com discursos de ódio contra os povos originários foi diluída pela força dos maracás na acolhida das mulheres que vieram marchar por suas vidas. 

No acampamento montado no Complexo Cultural da FUNARTE, diversas culturas indígenas se unem em meio a cantos, danças, rezos e artes de mais de 172 povos, pela possibilidade de existir, re-existir e garantir a continuidade de seus modos de vida. Sob o tema “Mulheres Originárias: Reflorestando mentes para a cura da Terra”, lideranças e representantes indígenas trazem a ancestralidade em suas vozes potentes e corpos presentes na partilha de um território de luta e fortalecimento político e simbólico a favor da vida.

Resistência e ancestralidade: vovó Ione Terena, Naine Terena e Enedina Terena. Foto: Amanda Scarparo/Tucum Brasil.

Debates, exposições, rodas de conversa, plantões jurídicos, palestras, encontros e apresentações culturais permeiam essa grande e diversa aldeia que é o acampamento que serve de base para a Marcha. Nos corpos dos que passeiam, trabalham e se engajam nessa luta que deveria ser de todos, grafismos e adornos de diferentes povos se revezam na paisagem, promovendo um desfile de diversidade e riqueza cultural assim como seus artesanatos tecidos pelas mãos das artesãs indígenas e daquelas que vieram antes delas. 

Anciã do povo Guarani. Foto: Amanda Santana/Tucum Brasil

Além da tenda principal, onde ocorrem as plenárias e apresentações, a organização da Marcha (que reúne representantes da ANMIGA, APIB, COIAB e outras entidades regionais) conta com uma tenda especial de saúde. Coordenada pela enfermeira indígena Vanda Ortega e voluntários da Fundação Oswaldo Cruz, é neste espaço que acontece a testagem obrigatória para a covid-19, a distribuição de máscaras e informações sobre as diretrizes de convivência segura no acampamento.  

Mulheres em marcha
Ao contrário do previsto e frente às constantes ameaças recebidas, as lideranças indígenas optaram por adiar a Marcha para amanhã, sexta-feira, 10/09. Na primeira plenária do dia, a fala de Nyg Kaigang reforçou o compromisso da organização com a segurança. “Não vamos expor nossas mulheres. Nós estamos em espírito de marcha desde que saímos de nossas comunidades, nós estamos em marcha há 521 anos. Precisamos zelar pela vida, porque para nós uma guerreira a menos faz muita diferença. Somos mulheres que gestamos e protegemos a vida e vamos proteger nossas crianças, anciãs e todas as mulheres que estão aqui.”  A nota oficial você pode ler aqui.

Mulheres Kayapó-Xikrin. Foto: Amanda Scarparo/Tucum

Depois de duas semanas na expectativa da votação que pode definir o futuro das terras indígenas no Brasil, o acampamento assistiu ao julgamento no STF e comemorou o voto do ministro Edson Fachin, contrário ao marco temporal. O julgamento será retomado na próxima semana e a mobilização contra esta e outras manobras jurídicas que ameaçam os direitos originários continua nas bases, nas aldeias, nas redes. Nenhum direito a menos!

https://www.facebook.com/VozDosPovos/videos/646709829625812/