Novos desafios indígenas na pandemia

Em meio à segunda onda da pandemia causada pela Covid-19, os povos indígenas continuam resistindo contra o racismo, a desinformação e a falta de planejamento adequado às suas realidades dentro e fora das aldeias

A classificação dos povos indígenas como grupo prioritário no plano de imunização do governo contra o novo coronavírus foi uma vitória importante da frente de mobilização organizada pela APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e outras entidades indígenas junto ao Supremo Tribunal Federal. Mas ainda há inúmeros desafios pela frente.

Indígenas são considerados grupo de risco por conta da vulnerabilidade social, historicamente construída em torno de seus modos de vida. A invasão e circulação de não-indígenas em seus territórios representa um perigo para estas populações que têm sua organização social baseada na coletividade e no compartilhamento. Além disso, os recursos das unidades de atendimento voltadas para a saúde indígena atendem somente casos de baixa complexidade e considerando as distâncias entre as aldeias e os centros urbanos, pode-se levar até dias de barco para alcançar um hospital. Frente a estes e outros fatores, os movimentos de mobilização indígena insistem na importância em criar planos específicos para os povos indígenas, mas ainda enfrentam a a falta de vontade política no sentido de preservar estes povos. A paralisação nos processos de demarcação e homologação de terras indígenas explicita as motivações políticas em dar continuidade ao plano de deixar estas populações desassistidas, inclusive em relação ao novo coronavírus.

Com mais de 46mil casos confirmados de contaminação entre indígenas, a vacinação teve início em 17/01/2021, mas somente indígenas aldeados podem usufruir o direito à imunização contra o coronavírus. A exclusão de aproximadamente 380 mil indígenas que moram fora de suas aldeias do plano de vacinação significa que ainda temos muita luta pela frente na preservação dos povos originários contra a covid-19.

Vanuzia Costa Santos, técnica de enfermagem, assistente social e presidente do conselho do povo Kaimbé foi a primeira indígena a ser vacinada no Brasil. Foto: Rodrigo Rodrigues/G1.

Ampliar o acesso à vacina à toda população indígena independente da localização geográfica é um desafio que faz parte de um processo de conscientização sobre o que é ser indígena no Brasil. É preciso urgentemente superar o pensamento cristalizado do indígena desconectado da sociedade, como se a existência indígena só estivesse garantida ao indivíduo que permanece em sua aldeia de origem, sem acesso à internet, sem falar o português. Esse tipo de compreensão limitada segrega e reforça o que chamamos de racismo institucional, que determina de forma autoritária que é e quem não é indígena sem levar em conta aspectos culturais, históricos, políticos e sociais que envolvem a identidade indígena.

Não é novidade o empenho do atual governo em atrasar, impedir ou anular qualquer ação em favor das populações indígenas no Brasil. O incentivo a invasões em territórios indígenas, a suspensão de medidas protetivas a estes povos e territórios, assim como a exclusão de parte significativa da população indígena do Plano Nacional de Vacinação são apenas algumas ações que agravam a vulnerabilidade dos povos indígenas do Brasil.

A enfermeira indígena Vanda Ortega, do povo Witoto, durante vacinação no Amazonas.

Na contrapartida dos ataques e da invisibilização de suas lutas, a campanha Vacina, Parente! é parte do plano Emergência Indígena que desenvolve ações de articulação política, judiciais e de comunicação para garantir que o direito à vacinação chegue a todos os indígenas do Brasil. A campanha também é uma ferramenta para combater as notícias falsas sobre a vacina entre os indígenas e incentivar que todos os parentes se apresentem para receber a imunização nas duas doses oferecidas.

Fontes e referências:

https://apublica.org/2020/04/ineditomais-de-200-terras-indigenas-na-amazonia-tem-alto-risco-para-covid-19/

https://portal.fiocruz.br/video/vulnerabilidades-dos-povos-indigenas-no-contexto-da-covid-19

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